Nanotecnologia é um desses termos que ouvimos falar mas não sabemos muito bem o que significam. Basicamente, ele se refere ao controle da matéria em nanoescala, ou seja, em uma escala mil vezes menor do que a micrométrica – a das células, que pode ser vista com a ajuda de um microscópio. Segundo Maria Beatriz da Rocha Veleirinho, CEO e cofundadora da Nanoscoping, esse estudo é importante para conseguir estabilizar princípios ativos naturais que, de outra forma, seriam muito instáveis para a utilização farmacológica.
“No campo da dermatologia e estética, a nanotecnologia já é bastante difundida. Um dos princípios ativos mais comuns em produtos desse setor é a Vitamina C, presente em cremes antioxidantes. Ela é muito instável, então se não nanoencapsulada, a validade e tempo de prateleira fica extremamente reduzido e a sua comercialização não é viável”, explica a cientista.
A Nanoscoping nasceu da pesquisa de pós-doutorado em biotecnologia de Beatriz e sua sócia, Letícia Mazzarino. “Nós já desenvolvíamos sistemas nanotecnológicos inovadores e visualizávamos muitas oportunidades de levar essas tecnologias pro mercado. Ir além da pesquisa científica e gerar produtos que pudessem beneficiar a sociedade diretamente”, diz.
Transformando a indústria farmacêutica
A startup produz soluções para segmentos diversos como cosmética e agrícola, mas as empreendedoras decidiram iniciar suas atividades focadas no mercado veterinário. Segundo Beatriz, grande parte dos produtos farmacológicos para pets são adaptações de fármacos humanos. Sua linha, por outro lado, é concebida para o tratamento de patologias recorrentes em animais domésticos e tem baixíssima toxicidade.
O problema disso, de acordo com a CEO, é que o pet apresenta características muito específicas e diferenciadas do ser humano. Existem componentes nos fármacos que não deveriam ser usados por intolerância do animal, ou até especificidades entre cães e gatos que são desconsideradas pela indústria.
“Hoje em dia, tratamos nossos animais de estimação como parte da família e nos preocupamos com seu bem-estar da mesma forma com que cuidamos da nossa própria saúde. É importante que os produtos que usamos neles tenham a maior eficácia possível para que eles possam conviver com a família com a proximidade que hoje é comum”, diz.
No entanto, Beatriz diz que sua linha agrícola é a mais inovadora. “Temos uma série de defensivos alternativos ecológicos de tecnologia verde. São produtos que substituem os agrotóxicos convencionais com pegada ambiental muito menor e efetividade muitas vezes superior”, explica. Totalmente biodegradáveis, essas fórmulas não perdem sua eficácia ao longo do tempo, diferentemente das tradicionais. “Como trabalhamos com um número muito grande de moléculas, atuamos em diversos mecanismos de ação de estímulos. Por isso, conseguimos evitar o desenvolvimento de mecanismos de resistência.”
Desde 2017, quando efetivamente começaram a produzir seus insumos, já conseguiram clientes importantes como Ourofino, Launer, Mundo Animal, SwillVet, Bella por Natureza, Ceya e Belcol.
As duas sócias fundaram a empresa cientes de que suas soluções eram inovadoras não só no mercado nacional, mas também no internacional. Por isso, a internacionalização fez parte dos planos desde o início. Participaram do ciclo Lisboa e Santiago da Startup OutReach Brasil e agora estão se inscrevendo para o ciclo Chicago. Considerando as diferenças regulatórias em cada país, investiram em uma linha diferente para cada um deles. Em Lisboa, estão trabalhando com a agrícola, no Chile, a cosmética e agora, em Chicago, seu plano é entrar com a veterinária.